O Alienista”, obra-prima de Machado de Assis, é um marco da literatura brasileira que combina sátira, ironia e uma reflexão profunda sobre a sociedade e a ciência. Publicado originalmente em 1882, o livro permanece relevante, oferecendo uma análise crítica sobre os limites da razão e os perigos do poder desmedido. Um dos meus livros favoritos espero que gostem do que vou compartilhar.
Contexto Histórico e o Autor
Machado de Assis (1839-1908) é considerado um dos maiores escritores da literatura brasileira. Filho de pais pobres e autodidata, ele ascendeu socialmente em uma sociedade marcada pela escravidão e pelas profundas desigualdades econômicas. Quando escreveu “O Alienista”, o Brasil vivia as últimas décadas do Império, um período de transição política e social. A escravidão ainda não havia sido abolida (o que ocorreria apenas em 1888), e o país enfrentava debates sobre modernização e ciência.
Esse contexto influenciou a obra de Machado, que utilizou sua escrita para criticar, de maneira sutil e irônica, os problemas de sua época. “O Alienista” reflete as discussões sobre o poder da ciência e da medicina, áreas que ganhavam prestígio no final do século XIX, mas também denuncia os abusos de poder e o autoritarismo disfarçado de racionalidade.
Resumo do Enredo
A história se passa na fictícia cidade de Itaguaí, onde o médico Simão Bacamarte, recém-chegado de estudos na Europa, decide fundar a Casa Verde, um asilo destinado a tratar os doentes mentais. Motivado por seu desejo de contribuir para o avanço da ciência, Bacamarte começa a internar na Casa Verde aqueles que julga mentalmente desequilibrados. No início, suas decisões são apoiadas pela população, que vê na iniciativa uma prova da genialidade do médico.
Entretanto, à medida que Bacamarte aprofunda seus estudos, os critérios para definir a loucura tornam-se cada vez mais amplos e subjetivos. Pessoas antes consideradas exemplares, como o pacato boticário Crispim Soares ou o influente vereador Galvão, começam a ser internadas. Isso gera desconforto e desconfiança na população, levando ao surgimento de uma resistência liderada pelo barbeiro Porfírio.
Após um levante popular contra Bacamarte, Porfírio assume temporariamente o controle de Itaguaí, mas sua liderança é breve. Logo, Bacamarte retoma o poder, convencendo a população de que sua pesquisa é vital. Contudo, sua obsessão pela verdade o leva a uma conclusão inesperada: a normalidade absoluta também pode ser uma forma de desequilíbrio. Assim, no final, o próprio Bacamarte, após perceber que sua conduta beirava a perfeição extrema, se interna voluntariamente na Casa Verde, encerrando o ciclo de sua busca.
Análise dos Personagens
Simão Bacamarte é um personagem complexo, marcado por sua extrema racionalidade e uma obsessão quase fanática pela ciência. Sua busca incessante por verdades absolutas o torna cego às implicações éticas e humanas de suas ações. Psicologicamente, ele representa a figura do cientista desumanizado, que subordina o bem-estar alheio ao avanço do conhecimento.
Dona Evarista, esposa de Bacamarte, contrasta com seu marido ao encarnar a figura de uma mulher simples, preocupada com as trivialidades do cotidiano. Sua presença na trama serve como um contraponto à frieza científica de Bacamarte, destacando a distância emocional entre o casal.
Os habitantes de Itaguaí, como o barbeiro Porfírio, são figuras que refletem a diversidade e as tensões sociais. Cada personagem secundário adiciona camadas de crítica social, ilustrando os efeitos do autoritarismo e a fragilidade das estruturas sociais. Exemplos disso são:
Porfírio é um líder populista e astuto que se aproveita das insatisfações dos habitantes de Itaguaí para organizar uma revolta contra Bacamarte. Psicologicamente, ele é um oportunista, movido tanto por um senso de justiça quanto por ambições pessoais. Nesse sentido, sua figura é essencial para expor as fragilidades do poder, seja científico ou político.
Crispim Soares, por outro lado, é um personagem submisso e temeroso. Como boticário, ele admira a inteligência de Bacamarte, mas teme suas decisões. Sua personalidade revela o comportamento de quem, por medo ou conveniência, prefere não se opor à autoridade, mesmo quando tem dúvidas sobre a justiça das ações do médico.
Pontos Fortes da Obra
- Sátira Social: Machado de Assis faz uma crítica contundente às instituições de poder, questionando as noções de normalidade e autoridade. A obra é um espelho que reflete os absurdos das convenções sociais e os excessos científicos.
- Estilo Narrativo: A escrita elegante e repleta de ironia caracteriza o estilo inconfundível de Machado. A narração em terceira pessoa permite ao leitor uma visão ampla dos eventos e insere comentários sutis, que enriquecem a experiência de leitura.
- Reflexão Filosófica e Científica: “O Alienista” provoca uma reflexão profunda sobre os limites do conhecimento e as consequências da busca obsessiva pela verdade. A obra questiona o que é sanidade e loucura, desafiando os leitores a reconsiderarem suas próprias percepções.
Em conclusão, “O Alienista” é uma leitura indispensável para quem deseja compreender a riqueza da literatura machadiana e sua capacidade de entreter e provocar reflexões atemporais. Escrito em um momento de mudanças e tensões no Brasil, o livro não só é uma crítica ao autoritarismo e aos excessos científicos, mas também uma testemunha da inteligência afiada de Machado de Assis. Com uma narrativa ágil e personagens psicologicamente ricos, ele transforma uma trama aparentemente simples em uma complexa análise da condição humana e da sociedade.
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